Aquele vinho...

Esse vinho, essa boca tua,

um mar morto de vergonha sobre a cama

e a ânsia de uma mão desencontrada,

procurando o cheiro de amor que vem das ruas,

e entra no quarto sem cais para o coração,

desejos, meio a tantas mãos

ouvindo a vida sem ter tato.

Vi meu corpo lavado de certa embriaguez, culpa do vinho,

que encurtando caminhos trouxe-me tu

o que jamais poderia ter feito.

Pede aos gritos calados de tua surdez que te leve embora.

Amo a solidão que o luar me traz junto à aurora.

É essa a vida que mais me encanta.

Quando a noite cai eu me emociono,

conto às estrelas de meus abandonos,

choro, sorriu, corro às ruas apagadas,

faço versos e os entrego às almas esquálidas,

como se viver assim me fosse o mel da hora.

Quando quiseres me amar, não me visites. Grite, corra pra bem longe

onde não me possa tocar e, prometo, farei amor por ti, a me achar,

como se duas almas houvessem saído de dois diferentes infernos

e passassem a viver separadas em paz eterna,

única condição de podermos tomar juntos o vinho da lua...