O Que Me Resta
Na parede branca está a imagem dela,
Imóvel, serena, ao lado da janela,
E eu aqui sentando, tentando me concentrar,
E ela em seu silêncio desconsertante a me espreitar.
Eu já não posso fazer nada
Além de sentir vontade.
Eu já não posso amá-la,
Já não existe lealdade.
Eu que já nem queria,
Hoje estou apaixonado.
Eu que já fui no sofá, na cama, na pia
Seu profano namorado.
Hoje não a toco mais.
Hoje eu a deixo em paz.
Hoje eu tenho prantos momentâneos,
Picos de felicidade instantâneos
Sempre que me lembro dela.
Mas eu sempre lembro.
Eu adoro minha janela!
Hoje eu penso como sempre doeu
Cada palavra dura, grossa, tola.
Cada gesto áspero por coisa boba.
Agora é tarde!
O meu consolo é essa imagem.
Ela ainda sorri inocente,
Ainda parece gostar da gente.
Ou só sorri me culpando,
Sarcástica, problemática.
Talvez nem seja um sorriso verdadeiro,
Talvez seja maquiagem de banheiro,
Aquela que esconde as cicatrizes,
Que só servem pra uma noite de festa.
Lembrar de tudo é o que me resta.
Tudo que me resta dela é isso
E as lembranças do que aconteceu.
E eu vivo assim pelas sombras
Desde que meu amor morreu.
Walter Vieira da Rocha.
13 de agosto de 2015 às 12:50hs