Ai de ti, Mimoso
Ai de ti, Mimoso, terra mãe desgraçada
Esquecida e repudiada por teus filhos.
Vives hoje, rota e desamparada,
Foste esquecida e humilhada,
Em nada lembrando a beleza
De tempos nem tão distantes,
Em que reinavas absoluta,
Destaque entre tuas iguais,
Em que eras chamada de Pérola do Sul.
Ai de ti, Mimoso, terra mãe prostituta
Que criaste teus filhos como gigolôs
Que, hoje, se à casa retornam,
Somente dela desfrutam, indiferentes, frios, sem amor.
Certamente a eles negaste
O límpido de teus regatos,
O frescor das frutas do campo,
O ócio das tardes, a paz da Ave-Maria,
A sombra de tuas árvores,
O embalo das copas, o cheiro do mato.
Ai de ti, Mimoso, terra mãe opressora,
Que proibiste que em teus cantos de ruas
Namorados trocassem juras e carícias de amor,
Que lhes negaste as flores de teus jardins,
Que calaste serenatas em noites de lua;
Às crianças, que toiassem a bola de gude
Até mesmo a brisa morna às pipas,
Que jogassem pião, amarelinha em tuas calçadas
E, prepotente, com o jipe do Padilha,
Todas as chácaras de Judas derrubaste.
Ai de ti, Mimoso, terra mãe mesquinha,
Que a teus filhos negaste a abundância
Dos peixes de teus regatos,
Dos pássaros de tuas matas,
E, de tuas filhas os amores,
E, se hoje, eles, médicos e engenheiros,
Eminentes Deputados, Governadores,
Surdos não ouvem teus apelos.
É porque já nasceram adultos,
A eles foi negada a própria infância...