Voltar ao começo

Depois de tanto tempo sozinho,

perdido entre autocomiseração,

olho para o nascer do sol e sinto a ausência,

sinto a falta de voltar ao começo de tudo,

trocar olhares nas ruas, sorrisos nas praças,

escrever bilhetinhos curtos me apresentando,

ouvir músicas que tocam fundo ao coração,

fechar os olhos e rememorar um rosto,

pensar que em algum lugar há um alguém,

ter a certeza de que posso ser o alguém de outrem,

viver com o pulso acelerado por um simples "Oi"...

Depois de tanta espera pela cicatrização,

aguardando as dores cessarem em minha alma,

olho para a janela do trem e desejo um encontro na plataforma,

sinto a falta de voltar ao começo do que já fui,

rascunhar poesias com jeito de menino apaixonado,

comprar pequenos presentes para vê-la em estado de graça,

escolher flores que combinem com seu dia a dia,

sentir o perfume de sua pele mesmo na maior distância possível,

entender cada gesto sem precisar de palavras audíveis,

ter a certeza de que há alguém com os mesmos desejos,

viver dançando melodias imaginárias com uma simples mensagem...

Depois de tantos desencontros,

perdido em um labirinto de sentidos,

olho para a ponte que me liga ao mundo dos vivos,

sinto a falta de voltar ao começo dos meus sentimentos,

desenhar silhuetas com giz de cera colorido,

dedilhar notas cadenciadas numa composição única,

receber cada carinho como uma dádiva do destino,

imaginar um futuro de superação e felicidade,

ser um bobo enebriado por romantismos ímpares,

ter a certeza de que alguém também está à minha procura,

torcer para que essa reunião não demore demasiado...