Inverno da Alma

I
Olho ao redor e só vejo folhas secas,
Galhos retorcidos e sem vida.
O vento frio sopra em minha face,
Mas não seca minhas lágrimas.
Preciso confessar
Que o frio que sinto em meu corpo
Não é nada,
Comparado ao que entorpece meu coração.
Sem você aqui tudo fica mais cinza e triste.
Não tem vida.
Sinto meus sonhos se esvaírem
Por entre meus dedos.
Não há nada que eu possa fazer
A primavera jamais chegará.
Mas se hoje a infelicidade é minha hóspede,
Fui eu quem lhe deu abrigo.
Minhas escolhas a fizeram bater em minha porta.
"Pode alguém destruir a própria felicidade?"
Pergunto em vão para mim mesma.
Então vejo a resposta clara,
Como as águas límpidas de um riacho.
Sim, é possível!
Sento–me em um tronco caído
Contemplando minha obra-prima,
Enquanto um provérbio tão antigo
Assina minha condenação:
“Você só colheu o que plantou”


II
O manto denso e escuro da noite
Se estende ante meus olhos.
Pequenas luzes brilham a distância,
Mas não dissipam as trevas.
O silêncio se espalha,
Mas não acalma a minha alma.
Sinto sua falta.
Reconheço como o coração em pedaços,
Mas nada posso fazer.
Se hoje sua ausência me fere,
Minha indiferença a causou.
Perdoa-me por toda dor
Que eu trouxe a sua vida,
Já que não posso me perdoar,
Pelo caos que causei às nossas.
E enquanto contemplo a noite escura
Aguardo pela aurora.
Por mais longa que seja a noite
O sol irá surgir.
Pacientemente esperarei.


III
A única resposta que o silêncio traz
é instigante.
Entre o querer e o ter,
Entre o real e o imaginário,
Entre eu e você,
Existem as linhas do destino
Que traçaram nossas vidas
em caminhos opostos.
Está é minha única certeza:
Enquanto eu viver, dentro de mim
faltará uma parte
que sem perceber ficou com você.
Como? Eu não sei.
Eu simplesmente sinto.

IV
Uma lágrima pequenina
Desliza por minha face.
Antes que ela chegue ao chão,
Mãos suaves a recolhem.
Olhos que perscrutam sua origem
Para amenizar a dor que a provoca.
Ouvidos que escutam com a precisão de um médico
Os gemidos da alma.
Só os amigos sabem o que somos.
São anjos em nossas estradas.
Tiram nossa solidão,
Dão amor e compreensão
Quando tudo em nosso mundo
Já não tem mais razão.

V
Lenta e suavemente,
ela escorrega livre pelo abismo.
É a primeira gota de chuva.
Condensa em sua pequenez
Uma porção de vida.
Quase não se ouve seu ruído quando cai.
Quase não se sente seu efeito sobre a terra.
Mas sem essa primeira gota
As outras não a seguiriam.
Inocente em seu percurso,
Desconhece o significado que abriga.
Com o passar dos dias
Vemos o fruto do esforço de quem caiu
Para o outro se levantar.
Humilde e sereno, surge um pequeno broto,
Com o verde reluzente da Primavera.
Tímido e frágil ele se arrisca
Na paisagem cinzenta de galhos retorcidos.
Abriga em suas folhas a chama da esperança.
Esperança que pode libertar almas,
Renovar sonhos,
Trazer sorrisos e curar as dores.
Aquele verde exuberante,
Que ainda tem a força da pequena gota,
É forte o bastante para quebrar
Todas as marcas de sombras que existe.
Arrisca-te a olhar para fora
Contempla por um momento essa beleza.
E pelos teus olhos entrará a força
Da pequena gota, do pequeno arbusto,
Para que a sua vida também se renove.
Fran Macedo
Enviado por Fran Macedo em 02/08/2015
Reeditado em 05/09/2015
Código do texto: T5332166
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