Memórias passatemposas
Foram dias belos tocados pelo inverno
Levemente acariciados pelas águas
De uma chuva azul clara e refrescante
Que encharcava as folhas protuberantes
Das árvores verdes, marrons, extravagantes
Que cercavam a minha casa pequenina
Na qual viviam apenas dois pais e uma velhinha.
Por que digo então dois pais?
Pois um era pai do meu pai
E o outro era pai de mim
E eu era pai de ninguém
E hoje o sou também.
Eu tinha apenas dezessete primaveras
Quando conheci uma jovem enigmática
Alegre, tranquila, bonita e simpática
De um cabelo castanho amendoado
E cravos que dançavam na pele alva
Revelando uma beleza loira e singela
Ao ser que a soubesse apreciar.
Nos tornamos amigos entre idas e vindas
No terceiro ano do ensino médio
De uma escola como tantas outras
Com suas inquietações e masmorras
Preparando homens e mulheres
Para uma escola mais ampla
Na qual o professor não é homem ou mulher
E sim o tempo que consome e renova
Tudo o que finito é.
Foi Então
Que por ela Tive uma leve
Queda e explosão De um sentimento
Estranho, inebriante Que acomete todo tipo
De gente que respira A expectativa sufocante
De rever mais uma vez Trajando roupa de cortês
Aquela figura feminina Mansa, magra e esguia
Que, semelhante a uma droga metanfetamina
Viciava a minha mente a só nela pensar
Meus olhos só a queriam observar
Meu eu só a queria abraçar
Coração a acelerar
E então, puf!
Acordei
Era tudo fruto de um sonho que eu mesmo engendrei
Quase sem querer, mas querendo assim mesmo
Percebi que era tudo uma paixonite que estimulei
Achando que aquela criatura era uma rainha
Que me induzia a me comportar como rei.