Amor
Amor e paz é o que se almeja.
Eu abriria mão do amor, veja,
Pois nunca o tive.
Mas da paz já senti seu doce sabor,
Ainda que por ilusão e incerteza.
As ruas são meu quintal.
Ninguém me vê no esconde-esconde.
Tenho um colchão e um rack
Debaixo daquela ponte.
Sou visto apenas em estatísticas.
Tive uma namorada mística.
Virou estrela fumando crack.
Onde achá-la eu sei bem onde.
Já não sei minha idade.
Me sinto fraco às vezes.
Mas tenho muito mais liberdade
Do que quem tem dinheiro.
Não tenho espelho.
De comer sempre aparece.
Sobras me oferecem.
Quanto bom coração!
Eu não peço...
Eu não quero dinheiro.
Eu exerço meu direito
De ir e vir.
Há muito tédio nisso
Pra quê minha existência
Vai servir?
Dormir...
Um olho no céu,
O outro à minha volta.
Tenho um cordão e um anel –
(A maldade corre solta) –
Relíquias de tempos remotos.
A natureza é tão natural.
Ser humano é ser racional.
Animal.
Mais selvagem que leões.
Canibal.
Também agem como cupins.
Os papéis da casa da moeda
Nunca vão ter fim.
Peço água.
Tenho sede.
Não quero sua seda,
Fico com meu mau cheiro
Que pode ser minha defesa.
Não chegue muito perto,
Deixe aí o copo descartável.
Meu crime é inafiançável:
Ter nascido,
Obrigado.
Deus lhe pague.
Não me pegue pelo braço.
Cuidado.
Não me ofereça oportunidade.
Não se dê a esse trabalho.
Viva sua vida
Com toda sua paz agregada.
Só tenho sede.
Eu tenho sede
De paz.
Igualdade nunca será possível.
Existem os iguais
E os desiguais.
Eu não quero ser igual a você.
Me desculpe, não se ofenda,
Continue com sua vida feliz.
Feroz.
Eu continuo procurando
Minha paz.
Não nomeio a ninguém algoz.
Minha busca é incansável.
E não falemos de amor.
Muito menos de felicidade.
(Corre solta a maldade,
Relíquia de tempos remotos).
Devo ser um anjo torto.
Que seja!
Pra me justificar.
Quero no espaço meu lar
E fazer amor com minha estrela.
Ah Falei...
Foi sem querer...
Amor é balela.