vazio
Eu tenho um enorme deserto dentro de mim. Pelo vazio que tenho dentro de mim, tenho saudade do que não consegui ser. Acho que o que eu quero ser agora é o que não fui na infância.
Quando eu era criança eu deveria brincar com bonecas, com as outras crianças vizinhas, mas não havia vizinhas. Em vez de criar histórias de princesas eu alimentava a solidão. Brincava de fingir que bebe era boneca, que casamento era conto de fadas e que homem era um serzinho mal resolvido.
Cresci brincando no chão de uma infância presa a um casamento frio e o vazio só aumentava, eu tinha mais comunhão com a solidão. Então eu trago da minha infância uma visão obliqua das coisas. E digo que o escuro me ilumina e que o sol nunca brilha, é um paradoxo que me ajuda a criar poesia e que escrevo com muita dor.
Eu tenho que essa visão obliqua vem de eu ter me esquecido de ser criança e fiquei em algum lugar perdida. Era uma menina com o bebe, era a menina que perdeu o chão.