Um estranho no ninho

Disseram-me um dia que eu nunca soube amar

Não entendi, confesso, tal ato sempre foi o meu

Predileto, como assim se ensina a mudar?

Entendo que exige cumplicidade, sempre mudar

Sê-lo por inteiro, errar, ser o erro, a vontade

A mudança, o eterno relevar, lembrar

O motivo talvez foi minha mocidade

Mas onde que acharam tanta vontade?

Se hoje jovem já quebrei a cara

Diz com que cara você anda aí!

A você que renitentemente ainda sonha

Minha eterna contemplação, meus pêsames

Ofereço humildemente meu coração

Que é pra ver se onde sopram dois

Faz voar mais alto um balão

E eu que sempre tive medo de não saber

Agora a realidade veio, derrubou

Dei a cara a bater

Talvez eu fique vermelha, ou roxa quem sabe

Mas de uma coisa posso morrer deixando

Muita clara minha vontade

Amar como se tivesse fome

E dessa grande insaciabilidade

Viver como se fosse pouco para mim

Os pratos que já comi

Mas nunca esquecer de digerir

Que é pra absorver tudo em mim

Não, eu não hei de julgar quem ria

É que talvez não houvesse empatia

Fosse de falta de vontade ou mera disritmia

Essa coisa de mal lograr o que não fosse idolatria

É que o amor não deixou escolhas

Fez de mim corpo, alma e moradia

Pensei um dia em construir um ninho

Vai que ele decidisse e pronto, o teria

Mas é que não sabia a dimensão

Ficou tudo fora do padrão

Ele apenas olhou

Para minha doce ilusão, deitou

Bateu um pouco e rapidamente

Fez-se logo ventania, pois

Do jeito que ele passava

Pouco importava onde estava

Foi ao ar tudo que eu construíra

Aprendi, coração não tem casa

Bicho do mato, da noite

Não importa o afago ou açoite

Descobri que em mim nada bate

Tão jovem eu havia parado

Seria a prova de eu ter amado?

Ter meu coração aprisionado

Onde eu não queria,

Na carne que já foi minha

Naquele que já dormiu ao meu lado

Gabriel Amorim 23/07/2015