A chuva
Olho pela janela
Há uma lua banhando-se lá fora
eu ouço o barulho da chuva no telhado
Eu sinto o cheiro da terra que se molha
Vejo o bailar das flores no jardim
E o desertar das ruas
Sinto dentro de mim
a mesma chuva que chove lá fora
Eu ouço a voz rouca
de alguém cantando
e tocando piano
Eu vejo seus olhos negros penetrarem
o vazio que circunda
Vejo seus olhos invadirem o azul dos olhos dele
E chegarem perfeitos rumo aos meus
Eu ouço o barulho
barulho das pálpebras se fechando
e colidindo
e isso só eu ouço
Abro meus olhos
Sinto chuva em meu rosto
Molhado por uma água salgada
há um mar dentro dos meus olhos
A cidade do meu olhar se inundou
E as águas a mais
partem para fora
Sinto, simplesmente sinto
Que não há chuva lá fora
Abro meus olhos
estava divagando
estou possuída por um amor tempestuoso
Sinto chover em mim
Como se chovesse lá fora
Fecho meus olhos
há uma chuva chovendo dentro de mim
Abro meus olhos
e há chuva chovendo lá fora
Tudo está tempestuoso
E a chuva chove
e molha tudo
vai-se embora
resta-me apenas a chuva
chuva que produz maresia
maresia calma
das águas do mar salgado
de lágrimas adocicadas que escorrem dos meus olhos