DESPEDIDA


Estranha vez que contemplei o meu amor,
deixando o sonho ali na porta, meio incerta.
Ainda botão,  desfez-se o  coração em flor,
e me virei para uma estrada então deserta.

E mesmo hoje, quando penso no passado
sentindo falta do amor que me deixou,
lembro do olhar, naquele vão aprisionado
e da visão que a escuridão obliterou.

Este passado, quando alcança-me o futuro,
é o que me faz pensar em ti, sem sentir dor:
lembro os botões do roseiral naquele muro,
onde escrevemos nossos nomes sem pudor.

Quando contemplo, com tristeza, a lousa fria,
vejo que enfim, atrás de mim, a morte espreita
e o que eu supunha ser tristeza, é alegoria
de te encontrar, um dia, além da porta estreita.