AMAR: PERDER O NOME DAS COISAS
           REPUBLICAÇÃO - POEMA ESCRITO EM 1991.
Nota. Escrito para alguém que não  publica nem jamais publicou nada no Recanto das Letras.



Por mais que eu diga
que o tempo é tarde
e o amor pertence
ao coração antigo


pérola pedra
voz abissal
de tão silenciosa


chegaste e nada cala
esta voz nova
e o medo de perder
antes do ganho.


Amor que dá peso aos minutos
e reinstaura a dúvida
sobre o que se é:


Semente?
Espinho?
Flor?


Ausência de si mesmo
por se estar no outro.


Ausência de voz
para o tanto a ser dito.
Cautela absoluta


pelo tanto a ser calado.


Estar na amplidão de tudo
o que é olhar e corpo.


Amor que chega
recortando o tempo
em mil pedaços.


Amor de espera
contaminando os gestos
do dia-a-dia
as ruas...


Estranhamento de tudo
tornado outro.
Outro acordar de manhã
outro adormecer


outra natureza
nas noites brancas


outro silêncio e paz
outro cansaço e voz.


Todo o oculto e o esquecido
pulsando
na pele, nos ossos.


Eis-me aqui
eis-me aqui
sem outra certeza
senão a de estar nua


desde os recessos da alma.


Amar é isto:
Perder o nome das coisas.
Amar é isto:


Pássaro exausto
abençoando o voo


e o pouso impossível.



Do livro inédito "CRAVO VERMELHO TERNO BRANCO", de 1991, "publicado", na ocasião, para um único leitor.