Deixo calar a minha boca, louca,
outra boca que não a sua...
Deixo brotar em mim suspiros,
que em mim não foram plantados por ti!
Deixo que outro percorra meu corpo,
que me vire do avesso,
para ver se te esqueço,
e seja feliz!
Mas estou tão presa em tuas garras,
tão enredada em tuas malhas,
que mesmo sendo de outro,
é por ti meu grito louco,
meus suspiros longos,
meus murmúrios langüidos!
Sinto que as mãos que me tocam,
são as tuas!
Tua é a boca que me suga!
Teu é o corpo que me devora!
Estou presa! Sou presa! E meu algoz me apavora!
A lembrança tua é tão doida, vivída,
a tua face se reflete na que me olha,
tua voz parece que da outra boca evola,
teu cheiro, procuro nos pelos,
daquele que me abraça agora!
Estou presa numa cela sem barras, sem paredes,
estou presa em tuas garras,
morrendo em tua rede!
Só penso em ti, constantemente!
Como se aqui estivesse,
ao meu lado deitado,
comigo acordando, ao romper de cada nova aurora!
Resta-me viver, se é que vivo, presa,
nesta cela de lembranças e remorsos...
Não há futuro para nós á nossa porta,
este mofa enterrado em nosso passado!
Meu coração é quem te invoca,
fantasta de minhas noites mais encantadas,
onde jogada em teus braços,
ante a força de teu abraço,
sob o véu de teus cabelos longos,
cegando os meus olhos antes da minha entrega...
E viver do sonho então ando vivendo!
Vendo no outro a ti que não tenho aqui agora...
Edvaldo Rosa
14/06/2007