derivativos de uma lullaby

já com um pouco de sono,

você se depara com o choro dele;

vai até ao berço e vê os olhinhos enrugados,

as mãozinhas pra cima, ouve seus soluços

quando seus olhos com os dele se encontram,

pra depois nova retomada do choro;

a boca é igual à da mãe, que já ronca na cama;

o nariz lembra o seu, que felizmente você não é o Bentinho;

um arremedo de sobrancelhas;

no joelho e na batata da perna, seus dedos parecem deslizar

sobre a pele lisinha – tudo isso só você pode sentir,

você ou quem tem um filho – que

a moradora do condomínio de luxo,

devidamente cheirada, grita com a empregada

para que cale a boca desse menino,

ou que a moradora da favela,

devidamente cheirada,

ameaça jogar o menino pela janela

pra que alguém cuide dela;

você pega o bebê, leva-o até à cozinha,

quando volta ao quarto ele já dormiu

no seu colo; uma vontade de beijar aquele

rostinho sereno e inofensivo; mas

não devo acordá-lo, encrenca de novo, não;

depois de coloca-lo no berço,

você, totalmente festivo, aconchega-se

à amada para um amor moderado,

com medo de que aquela vagina

recém acordada não umedeça

e não o faça perder a cabeça,

mas com toda a esperança de que

ao menos um instante a vida o esqueça...

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/06/2015
Código do texto: T5280836
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