Amor desconexo
Nas tardes banhadas pelo mar revolto
Todos os caminhos levam ao mesmo porto.
Nas esquinas, os olhares tortos.
Nas ladeiras, as ancas das morenas ‘amadianas’.
Nos bares, saudade vertida em goles loucos.
Não quero que o amor resida na paisagem
Não quero que o amor resista na viagem que se fez.
Quero estar com a mente limpa.
Quero desintegrar o tempo que passou.
E isso é pouco.
Meus lábios secos
Meus abraços ocos
Minhas reverberações de sonhos outros
Tudo parece perdido num canto da varanda
Onde o vento brinca de falar.
O verbo de agora é consonante
Com as horas que passaram distraídas
Saudade pontuada na parede
Para lembrar que nem sempre é quando.
Deixa-me seguir.
Quebrar os laços
Juntar os trapos.
Há muito... parti.
Guarda os ossos.
Crema a minh’alma passarinha
E abre as asas, de novo, por aqui.
Não hei de te dar pouso,
Mas haverás de querer vir.
E, assim, tatuado na parede
Grafitado nos muros dessa lembrança
A eternidade prometida
Há de nos encontrar naquela esquina
Onde, sem saber, o destino se fez espelho
Partido em mil pedaços
Para o nosso desconhecer sem fim.