O andarilho e a luz
A desconhecida estrada, cuja aurora ilumina,
Atravessa os mais diferentes mosaicos;
Vê-se o mudo com voz, que raivoso sibila,
Até rostos expressivos e estáticos.
O sol tenta iluminar o insólito,
Alimentando as árvores com sua luz.
Em meio ao ambiente inóspito,
Um sorriso, na multidão, lhe conduz.
No olhar dela ele via a imagem refletida,
Vinda da aurora em seu caminho.
No olhar dela ele via a chama incontida,
Que queima, mesmo em um rosto alvarinho.
As palavras anseiam traduzir o encanto,
Permitindo-se o derradeiro seduzir.
O mesmo impulso que permite o belo acalanto,
É implacável no covarde ato de fugir.
O demônio do passado é ingrato,
E sem qualquer parcimônia,
Com visão, audição, paladar, olfato e tato,
Destroi a distante Xanadu em passiva e cruel cerimônia.
Lamúrios agora são ouvidos
E com raiva são negados.
Falsos sorrisos são percebidos
E com desprezo são mostrados.
Por vezes, a chama que ele ama, insiste em tremular
Nas desprezíveis planícies demoníacas.
E seu calor faz o andarilho sonhar,
Na outra estrada perdida, cheia de paisagens oníricas.
E, fechando os olhos, via miragens,
Onde doces o alimentavam sem tormentos.
Via também o grande roedor rindo das paisagens,
Repletas de jocosos monumentos.
E promessas levavam o andarilho pela montanha...
No cume, sentia aromas adocicados mas não via a fonte.
Sentia que o maléfico destino lhe fizera uma artimanha,
Levando-o a navegar conduzido por Caronte.
E o desespero o dominava,
A luz da aurora lhe fugia.
E quanto mais ele gritava,
Mais perdia sua energia.
Então a luz tocou sua face,
Iluminada pelo brilho difuso,
E qualquer caminho que ele trace
Em sua mente o deixa confuso.
Agora presente na cidade distante,
E de posse da luz, por vezes, crepuscular,
Ele reconhece o passado errante,
Pois sabe que já não precisa mais caminhar.