O andarilho e a luz

A desconhecida estrada, cuja aurora ilumina,

Atravessa os mais diferentes mosaicos;

Vê-se o mudo com voz, que raivoso sibila,

Até rostos expressivos e estáticos.

O sol tenta iluminar o insólito,

Alimentando as árvores com sua luz.

Em meio ao ambiente inóspito,

Um sorriso, na multidão, lhe conduz.

No olhar dela ele via a imagem refletida,

Vinda da aurora em seu caminho.

No olhar dela ele via a chama incontida,

Que queima, mesmo em um rosto alvarinho.

As palavras anseiam traduzir o encanto,

Permitindo-se o derradeiro seduzir.

O mesmo impulso que permite o belo acalanto,

É implacável no covarde ato de fugir.

O demônio do passado é ingrato,

E sem qualquer parcimônia,

Com visão, audição, paladar, olfato e tato,

Destroi a distante Xanadu em passiva e cruel cerimônia.

Lamúrios agora são ouvidos

E com raiva são negados.

Falsos sorrisos são percebidos

E com desprezo são mostrados.

Por vezes, a chama que ele ama, insiste em tremular

Nas desprezíveis planícies demoníacas.

E seu calor faz o andarilho sonhar,

Na outra estrada perdida, cheia de paisagens oníricas.

E, fechando os olhos, via miragens,

Onde doces o alimentavam sem tormentos.

Via também o grande roedor rindo das paisagens,

Repletas de jocosos monumentos.

E promessas levavam o andarilho pela montanha...

No cume, sentia aromas adocicados mas não via a fonte.

Sentia que o maléfico destino lhe fizera uma artimanha,

Levando-o a navegar conduzido por Caronte.

E o desespero o dominava,

A luz da aurora lhe fugia.

E quanto mais ele gritava,

Mais perdia sua energia.

Então a luz tocou sua face,

Iluminada pelo brilho difuso,

E qualquer caminho que ele trace

Em sua mente o deixa confuso.

Agora presente na cidade distante,

E de posse da luz, por vezes, crepuscular,

Ele reconhece o passado errante,

Pois sabe que já não precisa mais caminhar.

Manoel Frederico
Enviado por Manoel Frederico em 08/06/2015
Reeditado em 31/10/2016
Código do texto: T5269759
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.