Me devora

Me devora

Que eu tenho fome

Fome de querer

De estar com você

Fome de viver sem nome

Sem rumo e sem direção

Fome de fazer confusão.

Me invade

Que eu tenho pressa

Pressa de amar calada

De viver apressada

Na ilusão de um mundo

Pressa de viver sem nada

Sem abrigo, sem casa

Num vazio profundo.

Me estraga

Que eu tenho frio

Frio de calar o rio pra não falar mais nunca

Frio que me causa arrepio

No pé da nuca.

Me reduz

Que eu tenho sorte

Sorte de derrubar guerra fria

De me deixar sem via

E sem asa

Sorte de dar a volta no mundo

De atropelar o fundo

De um avião.

Me vive

Que eu tenho a condição

De um louco, de um morto

Na maca de um hospital

De um morto que não desiste,

E que insiste no que quer,

Afinal.

Me ama

Pois quem ama salva uma alma abandonada

Quem ama tira um mendigo da estrada

Quem ama não fala, não diz, não faz nada.

Me insiste

E não desiste de mim

Me desgasta e me amassa

Mas não desfaça oque fizemos

E fim.