AS PRIMAVERAS DE VOTUPORANGA
Quis não esquecer as primaveras de Votuporanga
e tanto fiz que do acúmulo de limo trazido verde
na bagagem transportei feito vaso o meu amor.
Dos corredores laterais da casa de Votupotranga
replantei-as como se fossem mudas de tempo
no corredor lateral dessa casa dos meus pais.
No cimento cinza lavado e poroso
abri três pequenos universos.
a terra surgiu nova sujando minhas mãos
de um tipo de sangue que não se vê
e nela meti as mudas de três primavera
uma de cada cor, as mesma daquelas.
Logo a vida armou galhos
pequenas na trama na grade
do pequeno muro lateral
na casa dos meus pais.
floresceram, mas ai!
não são as mesmas
sem o meu amor
A alegria transplantada dura pouco
se aquelas foram arrancadas de mim
estas quando mostravam o que verão.
E porque nada nos pertence, nem cidade casa ou muro
não era amor como aquelas desterradas da memória,
As flores-nos habitam a alma para tão somente
nela perfumar o que não tem cheiro,
o que perdeu sabor, para suportar as hastes do pensamento
e fazer durar no tempo a boa lembrança que nos sustente.
Por isso as primaveras de agora, essas que escrevo,
têm perfume e são minhas.
Primavera de papel, a mais bela e a mais triste.
Antônio B.