Agonia misteriosa
“A poesia é um nexo entre dois mistérios: o do poeta e o do leitor.”
Alonso, Dámaso
É tudo inverno neste peito.
É tão eterno o meu inverno.
É tão sem verde minha esperança.
Fica tão sem graça seus cabelos com trança.
Cadê a neve que faz frio o amor?
Cadê o sorriso que é falso e breve?
Onde está o poema que esteve aqui?
Aonde dói mais no peito que virou inverno?
Este quadro que se pinta é um auto-retrato.
Cadê a lágrima que me queima a pele do rosto?
- Eu vi. Fundiu-se com a saudade do olho da
menina que fica sem graça com suas tranças.
É tudo nostalgia neste meu inverno eterno.
Não há poesia que alivia, nem a que Deus cria.
É tudo noite e todo fantasma liberto me espia.
Até o dia virou noite na tela que pintava a mão
feia e fria do pintor, no dia-noite da minha agonia.