Agonia misteriosa

“A poesia é um nexo entre dois mistérios: o do poeta e o do leitor.”

Alonso, Dámaso

É tudo inverno neste peito.

É tão eterno o meu inverno.

É tão sem verde minha esperança.

Fica tão sem graça seus cabelos com trança.

Cadê a neve que faz frio o amor?

Cadê o sorriso que é falso e breve?

Onde está o poema que esteve aqui?

Aonde dói mais no peito que virou inverno?

Este quadro que se pinta é um auto-retrato.

Cadê a lágrima que me queima a pele do rosto?

- Eu vi. Fundiu-se com a saudade do olho da

menina que fica sem graça com suas tranças.

É tudo nostalgia neste meu inverno eterno.

Não há poesia que alivia, nem a que Deus cria.

É tudo noite e todo fantasma liberto me espia.

Até o dia virou noite na tela que pintava a mão

feia e fria do pintor, no dia-noite da minha agonia.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 22/05/2015
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