Juventude perdida
Meu filho, quando te vejo assim errante,
Perdido pelos descaminhos de tua vida,
Vejo-me, mesmo que por breve instante,
Em meu tempo de juventude ora perdida.
Bem sei, eram tempos bem diferentes,
Em que ainda se acreditava no amor,
Em que se cativava coração e mentes,
E que os canhões se calavam ante a flor.
Embriagado, mas pelos beijos da mulher querida,
Tragando de seu corpo o perfume, abraçados,
Sorvendo seu néctar, essência da própria vida,
Não "ficando", mas voando pelo infinito enlevados.
Êxtase não era química, era um real sentimento,
Embalados por rocks, blues, MPB, bossa nova,
Movidos por causas, sonhos, ideais, por momentos,
Morriamos por amor, nós o tinhamos a toda prova.
Nossas amadas eram musas, cantadas em versos,
Não como cachorras, chuchucas ou eguinhas pocotós,
E quando juntos cavalgávamos por todo o universo,
Em nossa dualidade éramos uno, não estávamos sós.
E quando hoje os vejo, assim tão perdidos, sem rumo,
Embrenhando-se por descaminhos de insana vida,
Busca inútil fora de si mesmos, onde inexiste prumo,
Meu Deus ... quanta tristeza... pobre juventude perdida!