Fluida

Não quero te ver como se água contida em frasco,
Informe, tomando a forma do limite que a contém,
Não permite que outrem ou a vida seja o carrasco
De teus sonhos, anseios, fantasias, vá mais além.

Que sejas fonte cristalina, onde farte minha sede,
Ou plácido remanso, onde revigore meu cansaço,
Imerso em tuas suaves curvas, replete minha rede,
Sacie minha fome infinda e repouse em teu regaço.

Ora sejas também torrente a entoar da vida o canto,
Sinfonia de amores frementes, cantante entre pedras,
Lançada em ímpetos de cachoeira, a bramir teu pranto,
Com o riso franco no destemor de quem não medra.

Não sejas como a água, inodora, insípida ou incolor,
Pois sou carente de teu suave olor que me inebria,
Do gosto que degusto em nossos momentos de amor,
Dos matizes que ressaltam de teu corpo sem fantasias.

Lança-te em delta, mulher amada, a buscar teu destino,
Mistura tuas águas às do mar, faz-te nuvem passageira,
Faz-te chuva, verta sobre mim, teu homem, teu menino,
E encharca-me com teu amor cíclico, por vez derradeira.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 21/09/2005
Reeditado em 30/09/2013
Código do texto: T52483
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