LENÇÓIS DE LINHO


"Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho"...
Camilo Pessanha



Os meus lençóis de linho,
bordados ponto a ponto
flores em cheio e crivo.
Ali, em nosso cantinho
estão em desaponto
sobre o colchão passivo.

Os meus lençóis de linho,
de um branco imaculado,
bordado em ponto de haste,
ao meio, com carinho,
um trigo bem dourado
ali, a por contraste.

Os meus lençõis de linho
contra a madeira escura
da cama de nós dois,
não viram um carinho
ou gesto de ternura,
nem antes, nem depois.

Quem maculou assim
o sonho que sonhamos
de ali deitarmos juntos?
Quem abalou, por fim
a sede em que alçamos
nossos desejos, muitos?

Os meus lençóis de linho
na cama, impecáveis,
enfeitam o vazio.
Onde foi nosso ninho
não há marcas palpáveis
de amor. Sobra-me o frio.

Quem maculou assim
o sonho que sonhamos,
quando por outras vezes
doces juras sem fim,
entre beijos trocamos,
sem prever tais revezes?

Sobre o colchão passivo
estão em desaponto
ali, em nosso cantinho,
flores em cheio e crivo,
bordados ponto a ponto,
os meus lençóis de linho.