A CARNE
A carne é fraca,
pois a alma é mais fraca.
Tremo de medo,
mas me exponho
e deixo que me deflores
e deixo aflorar em mim
as cores da paixão.
Maquinalmente me enches
e me esvazias
e me enches
e me esvazias
e eu me rendo,
sem gesto de resistência,
e alcanço
o patamar de um pássaro.
O vôo me liberta:
a carne esfacelada,
divinamente suja,
sobre brancos lençóis.
A carne é franca,
pois o corpo vibra
ao sentir teu toque.
Confundo os sentimentos:
amor e posse são
uma só pasta.
Uma massa disforme
ganha sentido e poesia:
comes a pasta,
bebes o suor
e eu me sinto saciada.
Ai a carne é frágil!
Mais frágil é o desamor
que nos separa...