SOBRE O AMOR...
Eu, que a amo tanto,
deveria ser capaz
de ser bem mais
que o ser que te ama, apenas.
Logo agora, que aprendi a
não ter saudade do tempo
em que eu não te amava.
De quando não sabia
que o amor fazia pulsar
o corpo e a alma da gente.
De quando não sabia
que a noite podia
ser mais que solidão.
De quando eu fingia
que era feliz; e que um
beijo era um beijo e não
um turbilhão de emoção!
Agora eu sei que um
riso de quem se ama,
belo e despretensioso,
acende uma manhã inteira,
além de ser capaz de me
cobrir de contentamentos.
Sei, também, que o amor
é próprio de nos fazer
ver as coisas enviesadas,
como se fossem nossas
coisas que não são de todo;
como um beijo roubado
numa fria manhã de maio,
pode valer mais que uma vida.
Ou como ser de novo um
menino sem se remoçar
de fato, como ter esta
visão oblíqua e poética
nesta vida, ainda, tão patética!