Quase um poema
O cursor do teclado
pisca, ininterruptamente,
no infinito da solidão
da tela do computador.
Ele me provoca.
Em tom de deboche me questiona:
“E ai, não vai começar a escrever?”.
“O que houve?”.
“Cadê a sua habilidade com as palavras?”.
Os ponteiros do relógio da parede
guilhotinam as horas
enquanto as palavras zombam da minha agonia.
As benditas letrinhas correm de um lado para o outro.
Pulam amarelinha,
puxam o rabo do gato
e se escondem de mim.
As palavras não desabrocham em versos
para desflorar a tela vazia
e aniquilar o silêncio da minha agonia
desenhando meu quase poema.