Quase um poema

O cursor do teclado

pisca, ininterruptamente,

no infinito da solidão

da tela do computador.

Ele me provoca.

Em tom de deboche me questiona:

“E ai, não vai começar a escrever?”.

“O que houve?”.

“Cadê a sua habilidade com as palavras?”.

Os ponteiros do relógio da parede

guilhotinam as horas

enquanto as palavras zombam da minha agonia.

As benditas letrinhas correm de um lado para o outro.

Pulam amarelinha,

puxam o rabo do gato

e se escondem de mim.

As palavras não desabrocham em versos

para desflorar a tela vazia

e aniquilar o silêncio da minha agonia

desenhando meu quase poema.

Paulo Rodrigues
Enviado por Paulo Rodrigues em 11/05/2015
Reeditado em 08/06/2023
Código do texto: T5238533
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