SOFRER POR AMOR

Vi uma sombra pousar sobre mim:

entre tantos, tu me escolheste

e eu te segui

por estradas aziagas.

Íamos de mãos dadas

e tuas mãos

ora me afagavam,

ora me feriam.

Com tuas unhas,

abrias feridas em meu corpo

e rogavas as mais dolorosas maldições.

Depois choravas,

implorando meu perdão,

e aninhavas teu corpo

em minhas mãos.

E, entre as lágrimas e o riso,

eu te seguia,

cega e calada de tanto amor.

Às vezes, éramos flores.

Às vezes, espinhos.

O terror de te perder

- o que seria da vida sem ti?

O horror de te ter

- o que é de minha vida contigo?

Tudo estava fundido

em meu coração confundido

pela cegueira da paixão.

E a sombra me cegava.

E eu me dava

e tu me rejeitavas.

Eu te negava

e tu me procuravas

de rosto transido,

implorando perdão,

compaixão,

compreensão.

E eu dava

e me dava de novo

mais e mais.

Até que um dia cansei.

E, como quem tenta

se desvencilhar de um lodaçal,

deixei a tua casa

e, abrindo minhas asas,

voei para longe.

Ainda ouvi o teu grito:

mais forte que teu grito,

a sensação de liberdade.

Não foi sem dor que te esqueci.

Não foi sem medo que atirei ao vento

uma possibilidade de futuro.

Não foi sem coragem.

Hoje o amor me parece

uma bigorna pesando na alma.

Tenho medo desse peso.

Mas a liberdade que tenho hoje...

por que dói tanto?

Wanda Maia
Enviado por Wanda Maia em 12/06/2007
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