SOFRER POR AMOR
Vi uma sombra pousar sobre mim:
entre tantos, tu me escolheste
e eu te segui
por estradas aziagas.
Íamos de mãos dadas
e tuas mãos
ora me afagavam,
ora me feriam.
Com tuas unhas,
abrias feridas em meu corpo
e rogavas as mais dolorosas maldições.
Depois choravas,
implorando meu perdão,
e aninhavas teu corpo
em minhas mãos.
E, entre as lágrimas e o riso,
eu te seguia,
cega e calada de tanto amor.
Às vezes, éramos flores.
Às vezes, espinhos.
O terror de te perder
- o que seria da vida sem ti?
O horror de te ter
- o que é de minha vida contigo?
Tudo estava fundido
em meu coração confundido
pela cegueira da paixão.
E a sombra me cegava.
E eu me dava
e tu me rejeitavas.
Eu te negava
e tu me procuravas
de rosto transido,
implorando perdão,
compaixão,
compreensão.
E eu dava
e me dava de novo
mais e mais.
Até que um dia cansei.
E, como quem tenta
se desvencilhar de um lodaçal,
deixei a tua casa
e, abrindo minhas asas,
voei para longe.
Ainda ouvi o teu grito:
mais forte que teu grito,
a sensação de liberdade.
Não foi sem dor que te esqueci.
Não foi sem medo que atirei ao vento
uma possibilidade de futuro.
Não foi sem coragem.
Hoje o amor me parece
uma bigorna pesando na alma.
Tenho medo desse peso.
Mas a liberdade que tenho hoje...
por que dói tanto?