TRAGA
Abandone o passado;
Abandone o apartamento;
Abandone o álbum de fotografias;
Abandone aquela cama que rangeu noites;
Abandone as louças e seus jantares;
Abandone a poltrona e até os filmes de Brunel e Almodóvar;
Abandone com tristeza Vinícius e Drummond;
(deixe os livros contarem outras histórias para outros corpos)
Abandone aquela janela que te viu passar pela primeira vez
na calçada do outro lado da rua...
Abandone tudo o que os homens te deram;
(jóias e bibelôs que em paixão se desfizeram).
Abandone todos os carnavais que teu corpo testemunhou.
Lamento não poderes abandonar a memória...
Mas... abandone, abandone o que puderes,
Tudo o que for possível deixar!
Entretanto, traga pra mim:
Este teu corpo e o violão;
O teu sorriso e o computador;
(formatado!)
Teus lábios molhados e a canção
Que em teus seios hão de sorver amor.
E a esperança!