Ode aos clowns
Vai, sem pensar, que mais vale uma vela acesa
Numa noite ilesa, dessas que as lâmpadas hão de apagar
Preza pelo simples, nunca o imperfeito, nem tente consertar
Aquilo que, por acaso, sair com defeito
Que é nas epifanias que me encontrarei
No brilho fagueiro de um olhar que não enxerguei
Nos quentes abraços que ainda vou ganhar
Esse será meu lugar, errar, se jogar, perder, jogar
E quero essa euforia de tentar novamente,
Ansiar pelo escuro mesmo tendo medo
Que é pra ver se eu me acostumo
Com essas tais lentes vermelhas
É que é tanta desconstrução e já não tenho pilares
Coisa de palhaço é ser do improviso, do puxadinho
Do picadeiro, do frio na barriga, do eu batata
Quase tropecei, não tem problema, do chão não passa
Se tenho árvores ao meu redor tudo é galho, brisa e lágrima
E ainda meio inebriado fala com estou saudoso
E no eufemismo dessa minha louca vontade
Digo que morrerei de saudade
Na mais perfeita lógica vermelha eu reafirmo
“Como é que se morre de saudade
Se é de saudade que vivo?”
E foram tantos encontros
Que pude até mergulhar em mim
Mergulho no vazio? Nada disso
Se ontem fui lagoa, hoje me lanço à toa
Sempre tive medo de mar, mas o que é
Nadar, quando toda água que vejo resplandece
O teu olhar?
Gabriel Amorim 03/05/2015