Vento das mudanças
Já ouço a chegada do vento das mudanças
Implacável, vem varrendo antigas lembranças
Afasta as nuvens que insistem em macular meu céu
Derruba minhas estruturas e me expõe ao léu.
Inunda as praias e demole os castelos de areia
Ensurdecedor abafa o feitiço do canto da sereia
Minha alma nômade, aparentemente adormecida
Desperta extasiada para uma nova vida.
A âncora que nunca ficou verdadeiramente fincada
Sobe imponente para uma nova jornada
O chamado no horizonte é absolutamente irresistível
Até tentei, mas ser telúrico, para mim é impossível.
Minhas raízes não se prendem no chão
Estar é o meu verbo, pura transição
Sigo as marés, as estrelas e a lua
Minha casa é sempre numa nova rua.
Sigo aprendendo novos dialetos e idiomas
Questionando dogmas e axiomas
Fazendo valer cada átimo da minha fugaz presença
Por favor, não me peça para ficar, não há nada que me convença
Não me culpe, se culpe ou busque explicações
Não me julgue indiferente às suas emoções
Poderia tentar buscar diversas razões
E você rebateria todas com senões.
Sem lágrimas, arrependimentos ou adeus
Despedida de corações ateus
Que um dia ousaram acreditar que poderia ser diferente
E aprenderam no sangue que nada é permanente.