EQUÍVOCO
Vê como penso:
Ontem, perdeste-me. Nem sabes quando ou porquê.
Ainda assim, amei-te num amor magoado
que o tempo marcou mais na alma do que no rosto,
[como um fogo que não morre e que não pode ser apagado].
Na tua ausência, afastei as melodias que nos tocaram,
condenando as suas letras ao degredo
[Os sentidos privei do que pudesse potenciar a memória.
Ás palavras acedo apenas em silêncio e em segredo].
Fugi de mim como se pudesse esquecer desejo ardente sob o qual tremi
Concentrei-me no momento em descobri toda a trama:
Ardil. Traição. Enredo que roubou mais que a inocência...
A verdade que absorvi como veneno: não te ama, não te ama...
Ser feliz... O meu corpo como cálice que levaste aos lábios...
Um altar de carne e cetim erguido entre paredes brancas,
Desejos que se transformaram em loucura e fatalidade,
levaram à morte do arrepio e do suspiro, no movimento das ancas.
Não... É tarde e de tão tardia hora, o meu peito não contém a dúvida:
Ainda que não acreditando numa felicidade que tarda...
Por que razão, te equaciono hoje, se ontem me perdeste?
(Ema Moura)
Inspirado no poema Renascer, de Geraldo Coelho Zacarias.