LÁBIOS DE MEL
Tupã, ó deus grande; perdoa este estranho...
Atrevimento tamanho;
se filho da selva, nem ao menos é...
Porém, o destino me fez emboscada:
perdi-me de amores pela a ti consagrada
e encantadora índia...filha do pajé!...
Bebi de seus lábios o mistério dos sonhos;
desejos risonhos...
Ó grande vertigem...
Ó mente não sã!...
Tua serva (tupã)
deixou de ser virgem!...
=============================================
Partiu pra bem longe, depois do pecado...
Ferida aberta; o peito rasgado...
Partiu pra bem longe, bem longe dos seus!...
Por que assim o fizera, por que que partira?...
Fugida da ira
dos guerreiros da tribo e tupã, grande deus!...
E a mim, tupã, agora o que resta,
se não tem mais seu perfume a floresta;
que igual não é o frescor da manhã?
Na certa, morrerei, pois sou da tribo inimigo;
porém o meu maior castigo
é a ausência da amada...ó grande tupã!...
-Ó filho (uma voz do alto ecoa)
tupã te perdoa...
Teu pranto, o teu sofrimento, cá do alto eu ouvi!...
Tupã é quem espalha do amor a semente;
vá, busca tua amada; porque esse presente
eu dou para ti!...
Parti tão ligeiro depois de ouvir de tupã a voz...
Tupã é deus grande, mas não um algoz;
não é vingativo; não é deus cruel!...
E disse: -quem ama, temer castigo não deve;
desfruta (a vida é tão breve)
a doçura da virgem dos lábios de mel!..
(GERALDO COELHO ZACARIAS)