NO PIANO
A música que o piano toca
me põe dengoso na poltrona.
Fico tão leve, absorto, absurdo
que finjo fugir de mim em você.
O piano é a arma que me define
meus dentes cravados te devoram.
Você é a caça que persigo, a dor
que levo nos ombros arqueados.
Ao fim do instante que te ofereço
a música que o piano toca, destoa;
o piano cala-se, fica mudo na sala
a porta abre-se, você entra solta.
Você suspira e cerra os olhos
enquanto o piano vive e tem coração.
Eu espero como se fosse eterno
o movimento das teclas nuas e frias.
Somos nós ainda, quase abraçados
desejando a crua emoção do toque.
Eu espero como se fosse eterno
e finjo fugir de mim em você!...