Apenas mais uma de amor
No desperdício das horas te fiz um poema.
São poucas linhas,
e por mais que elas não sejam todas minhas,
eu as ordeno tuas.
Em cada detalhe:
as reticências que se amontoam ao vê-la passar,
os pontos que se curvam em vírgulas a reverenciá-la,
os pingos que se jogam festivos feito malabares,
o arrepio das aspas,
os parênteses entreabertos na esperança que um dia lhe façam entrar.
São todos teus.
Do pouco de mim,
há o tremor das mãos
e o pesar dos olhos retorcidos a te imaginar.
Parece que escrevo como se lesses em simultaneidade,
como se estivesses sempre escondida num poema em branco,
ou no luar coberto de cortina,
ou num querer mambembe
de passar descalço,
que convulsiona aos poros
na conjunção total da palavra com a pele,
onde as horas saem aos minutos
e se perdem inúteis,
no tempo sem tempo de um verso de amor.