Do amor platônico

Deixa-me nu debaixo de um poema,

diz de cem versos putos sobre mim,

desanda a escolher meus próprios dias,

me pinta verde às moitas de capim.

E se não bastasse - e digo, isso não basta -,

fica mirando ao longe meu jardim.

Oras!

A tinta magra de mistura à lágrima

salga a mais doce cor do teu nanquim.

O gozo fosco à cor do céu aguado,

ao longe, vai te fazer lembrar e esquecer de mim.

Se me soubesses da folha que há em branco,

não querias do amor um querubim;

simplesmente viria (desnorteada e linda)

e fim.