SEM HORA MARCADA
Sou tua hora mais discreta
Ou tua hora mais absurda
Tua hora mais poluída
Ou tua hora mais incerta
Tua hora marcada
Hora da presa se prender
E se perder dentro do labirinto da hora
A hora em que só o instinto se devora
De qualquer maneira
Nesta hora passageira
Sou eu que meche teus ponteiros
Sou esta hora que para e dispara
Em que contritas o pulso
E me expulso pra dentro de ti...
Esse tempo que não passa de agonia
Horário de verão horário de Brasília
E depressa passa quando
Já se foi não restou nem a vigília...
Tempo que com suas hábeis voltas
Segura em suas mãos a volatilidade
De nossas vidas envoltas em outras
O tempo alimentando hidraulicamente tuas clepsidras
Nas torres de vento de teu nascimento
As mortalhas tecendo cadáveres em pedras
E pedras não morrem jamais sem vida
O tempo maior larapio do mundo
Nos rouba o que demais sagrado temos
O verbo... e de repente vem o silencio profundo...
Sou hora de tempo ir
Sou tua hora vulcânica de explodir
Sou tua hora de faz-me rir
E embrionária é hora de ir-se embora
Quando a hora passa e o tempo nos devora
E eu não tenho pra onde ir neste existir
Porque o tempo só existe mesmo
No faz de conta que é agora...