Minha memória suja
Lava
Minha memória suja
Nesse rio de lama
Da ponta da tua língua
Limpa-me por inteiro
E não deixa nenhum traço
De tudo
O que me persegue
O que me cansa
Aliás
Caça
Persiga-a em mim
Não é em mim que ela habita?
Enquanto a tiveres na ponta de teu fuzil
Não escuta se ela te implora
Tu sabes
Que ela deve morrer
Uma segunda morte
Então, mata-a
De novo
Chora
Fiz isso antes de ti e não adiantou de nada
A que servem as lágrimas inundando os travesseiros?
Eu tentei, eu tentei!
Mas eu tenho
O coração seco e os olhos inchados
Eu tenho
O coração seco
E os olhos inchados
Então, queima!
Queima quando ficares preso à minha cama de gelo
Minha cama como o gelo, que derrete quando tu me abraças
Nada mais é triste, nada mais é grave
Se eu tenho
Teu corpo como uma torrente de lágrimas
Lava, lava!
Minha memória suja
Nesse rio de lama
Lava...
(Tradução para o português do poema Ma Mémoire Sale de Alex Beaupain)