Perdoe este meu silêncio...
“O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem.” Eugénio de Andrade.
Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.
Estas, com certeza, seriam mais admiráveis
que todas as outras que eu falei e repeti.
Perdoe-me por eu ser reservado sempre!
Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.
Por jamais ter te falado sobre o sabor do teu
beijo. Por ter me calado e não ter te falado o
quanto o teu amor já me salvou nesta vida!
Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.
Por jamais ter falado da magia que tem teus
olhos, o teu sorriso discreto, teus mistérios,
os mais secretos, perdoe este meu silêncio...
Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.
Por ter sempre desviado dos obstáculos sem,
contudo, tê-los tirado da nossa trilha da vida;
perdoe toda vez que pensar em condenar-me...
Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse,
pelas noites que eu não te amei; pelos beijos
que eu matei antes de fazê-los nascer. Perdoe-me
agora e sempre, mesmo que eu não te peça...
Se eu me calar de novo, outra vez perdoe-me.
E, quando teu perdão tornar inútil, ouça o meu
silêncio, ele grita que carece de ti, hoje, agora,
sempre, sempre, mesmo que eu jamais te fale!