Conversão

Rasgou-me o peito,

Como que desprendida pela dor.

A voz torpe e sem jeito,

Gritada por esse amor.

A paixão como fogo que arde,

É chaga que se deixa ver.

Contrário ao poente da tarde,

Sob teus olhos ao me deter.

A aurora se foi nas cinzas das horas,

Para os umbrais do tempo clarear.

E nos deixou aqui no agora,

Para nosso amor insendiar.

Como chama bondosa,

No fogo a serpentear.

Feito brasa ardilosa,

Que ceia meu peito, meu ar.

Serei eu de todo inteiro,

Sem me excluir ou tirar.

Entregue ao meu amor certeiro,

No soluço do choro, no respingo do mar.

O mundo de representações,

Apresenta o que se deve ser.

Nos claustros das prisões,

Cada qual preso pelo seu querer.

Desejo sem vocações,

Vocais ou ilustrações,

Na guerra do poder.

Invisíveis são as prisões,

Que não nos dizemos conter.

Amores à prestações,

Que nem se rompe o alvorecer.

Amanhecidos nas contrações,

Das lembraças e lamentações,

Que o mundo nos faz ter.

Basta dessa fulga relativa,

Da realidade convertida,

Na falsa paz cognitiva

Dividida e repartida,

Para cada um de nós.

Penso no momento e no instante,

Sabendo que me contento

A viver como antes.

Pensar para trás

Como lembrança voraz,

Que nos consome no agora.

Que nos estremece e depois

Some na aurora.

Fora de mim mesmo

Ela se põe.

Assim meio que a esmo

Nas emoções.

Sem força só adejo,

Esvoaçando o futuro.

Como força, quase desejo,

Desse mal que me curo.

Alexandre Rodrigues de Lima
Enviado por Alexandre Rodrigues de Lima em 02/04/2015
Reeditado em 02/04/2015
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