EVERLASTING
Tudo bem, tudo certo!
Você disse “bom dia” e partiu.
Estou e devo arbitrariamente ser feliz!...
Condição diária é esforço de aceitar o impróprio, o desalojado.
Eu habito o sorriso que você roubou de mim.
Para ser oportuno, mesmo agora meu corpo reclama.
A casa reclama, os brinquedos e os talheres no armário reclamam.
Tudo guarda aquele tom de alegria descontente... “Bom dia, partiu”.
(Quando estamos juntos,
sentamos à mesa para jantar, nos sonhos que tenho sonhado,
tudo fica azul e ainda no sonho desconfiado penso:
“até quando acordar cinza”.)
Para toda gente “desaparecer” é definitivo na morte. Para os amantes, everlasting!
Tudo de seu estampa minha cara e esconde meu rosto: o sorriso lascivo, o olhar penetrante...
Você é meu e eu nada tenho.
Meus olhos não se cansam de mentir, vejo suas digitais em cada coisa.
E, no meu coração, o aperto que sinto são suas mãos tatuando as fibras com meu sangue.
Suspeito que seja para sempre, para depois da morte, para a eternidade, everlasting...
Eu disse que não tinha nada, menti. Tenho, em qualquer lugar, caneta,
papel e o peso da fuga impossível. Anoto o que penso, penso para não sentir
e sinto muito por nós dois.
Para nenhum problema tenho solução, apesar de tanto estou bem.
Mas está tudo bem, mas tudo está certo.
Tudo bem e certo!
Antônio B.