EVERLASTING

Tudo bem, tudo certo!

Você disse “bom dia” e partiu.

Estou e devo arbitrariamente ser feliz!...

Condição diária é esforço de aceitar o impróprio, o desalojado.

Eu habito o sorriso que você roubou de mim.

Para ser oportuno, mesmo agora meu corpo reclama.

A casa reclama, os brinquedos e os talheres no armário reclamam.

Tudo guarda aquele tom de alegria descontente... “Bom dia, partiu”.

(Quando estamos juntos,

sentamos à mesa para jantar, nos sonhos que tenho sonhado,

tudo fica azul e ainda no sonho desconfiado penso:

“até quando acordar cinza”.)

Para toda gente “desaparecer” é definitivo na morte. Para os amantes, everlasting!

Tudo de seu estampa minha cara e esconde meu rosto: o sorriso lascivo, o olhar penetrante...

Você é meu e eu nada tenho.

Meus olhos não se cansam de mentir, vejo suas digitais em cada coisa.

E, no meu coração, o aperto que sinto são suas mãos tatuando as fibras com meu sangue.

Suspeito que seja para sempre, para depois da morte, para a eternidade, everlasting...

Eu disse que não tinha nada, menti. Tenho, em qualquer lugar, caneta,

papel e o peso da fuga impossível. Anoto o que penso, penso para não sentir

e sinto muito por nós dois.

Para nenhum problema tenho solução, apesar de tanto estou bem.

Mas está tudo bem, mas tudo está certo.

Tudo bem e certo!

Antônio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 25/03/2015
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