BALADA DE UMA LEMBRANÇA
(À Ísis, a mulher que transformou meus dias
em eterna primavera)
Vem a brisa. Murmureja.
Sopra o vento noite afora.
A face terna que beija
percebe a paixão e cora:
Seria o fogo em su’alma
que, trepidante, germina?
— O fogo das emoções
é o lábaro que alucina—.
Pudera eu, certo dia,
dizer em minha poesia
das coisas do coração;
quem sabe a doce aquarela
que molda fora da tela
a imagem d’uma ilusão;
quem sabe a emoção de um canto
que pode enxugar o pranto
e tantas vezes conter...
Quem sabe a voz do silêncio,
das não palavras que o senso
acha por bem não dizer...
quem sabe as rosas tingidas
por duas mãos comovidas
no quadro da solidão
que às vezes parece morta
mas um dia bate à porta
à procura de emoção
e — irreverente — fulmina,
envolve, assalta, domina
e nem lhe dizemos não!...
Ah! se eu soubesse os matizes
pra desenhar-te raízes
e as fizesse reais...
então jamais partirias
e num jardim de poesias
seríamos imortais.
E séculos de desejos
viriam regar os beijos
do mais humano calor.
Garanto que tu serias
a musa que eu comporia
nos meus poemas de amor!
Itapecerica da Serra, 12 de junho de 1989 - 21h30