Tarde e noite na praia do Porto Artur

A contenção é só uma denominação

para o muro de arrimo

que o povo chama de paredão...

Água mole em parede dura,

tanto esmurra em líquida surra,

que de fato nada duro dura,

é o que dizem e se concretiza

--como neste trocadilho--

no caso desta praia com nome

de histórico personagem da Ilha.

O ângulo impõe um necessário

passeio panorâmico de olhar:

a curvilínea faixa de areia em meio

a pedras, capinzais, lagoas e arbustos

--e nenhum humano ser --

é emoldurada pelo paredão

de arrimo e o asfalto da Av. Beira-Mar

(que, é bem verdade, é Beira-Rio)...

No fundo, o Chapéu-Virado, o caramanchão;

o Farol, com sua longa linha de juruzeiros

de mãos dadas um para o outro,

tão juntinhos parecem...

o Hotel Farol, a Ilha do Amor,

o Arquipélago de Marajó,

com a ponta alta da Croa Grande,

paresque querendo levantar voo,

até o céu mais azul do planeta,

tudo ali na dependência da vastidão

das águas baças da larga baía de Marajó.

A paisagem ali tão belamente descortinada

pela Mãe Natureza e capturada

pelos olhos de nós dois, Amor...

A beleza da vida na maré cheia, agora,

E a nostalgia de tudo na maré seca

e na distante linha d’água,

na música se locomovendo, flutuando

na atmosfera e chegando até nós

vinda do Violão do Porto...

E a brisa batendo, esbofeteando

suavemente nossas faces

vai fazendo mais lento o tempo a passar...

A noite se imiscui por entre

os chalés seculares, e os arvoredos

dos extensos quintais.

As luas artificiais em cada poste

refratam nos pingos dos esguichos,

em cada chibatada que o mar dá no paredão,

quando migalhas de água

em múltiplos miniarco-íris

coloridamente umedecem a enseada

e molham seus olhos, minha amada,

fazendo a vida ter sentido,

para além das caipiroscas e dos vinis

escolhidos para tocar ali

na Barraca Companheiro.

A música “Trenzinho do caipira”

lembra (não é, Coração?)

que o Patachoca, levando gente

para a Vila e de lá trazendo de volta,

é um fato singular que só na memória

dos mais velhos existe e persiste,

nem quase foto restou...

Mas nesta noite já alta e nas nossas

mentes já altas, embarcamos os dois

neste trenzinho feliz da memória,

rumo à Vila, para, deitados num leito de Eros,

sob um doce e etéreo teto onírico,

passar mais uma noite no Paraíso...