Carta poética
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Perdão, mas o amor que você tanto busca eu não posso dar.
Não sei se a vida me fez alheio a tudo que fala ao coração...
Pareço insensato e frio. Pareço tirano, eu sei.
O que talvez você não saiba, ou não perceba, é que apenas pareço.
Tento encontrar minhas verdades, mas não as encontro... Nunca.
Se a barreira que imponho, impedindo simples aproximação,
faz você chorar, depois de momentos tão nossos, geniais;
se após verter cada lágrima, você me tem por sarcástico e gélido...
Como acha que me sinto, não consegue imaginar? Tente!
Não consegue perceber que suas lágrimas são pesadas demais?
Também choro, sabia? Do meu modo e na minha solidão, eu choro!
Choro por não poder consolar cada lágrima que escorre de você;
Choro por não conseguir segurar minha própria lágrima...
Minhas mãos, agora molhadas, parecem suadas e incompletas.
Parecem... Elas enxugam as pálpebras cerradas do meu pranto.
Você sofre e me revela uma tensão existencial que não suporto.
Se choramos sozinhos, não devemos cobrar nada.
Se chorássemos a dois, não seria justo clamar, festejando a solidão.
E se não chorássemos, como seria nossa relação? Fria? Insulsa?
Para amar é necessário sofrer? O amor é sofrimento?
Amar. Sofrer. Sentimento. Dor. Lágrima. Padecer.
Não, não é isso! O amor não pode ser angustiante espasmo.
O amar não deve ser ardor que machuca, que deixa dolorido.
A solidão é reveladora. A solidão... É o fantasma dos covardes.
Estou assombrado, tenho medo de mim, de imaginar-me no futuro.
Por que é tão difícil revelar o que de mim você tanto busca?
Talvez você esteja procurando longe o que tenho dentro de mim.
Pare de olhar ao redor e me dê mais atenção. Olhe nos meus olhos.
Eles não estão taciturnos pelas noites mal-dormidas, não!
Esse olhar triste é apenas a cicatriz da ferida deixada pela dor.
E as lágrimas serviram para realimentar meu coração tão triste.
Acredito no amor... Sei que ele está em mim, claro, ele existe!
Mas o amar exige doação, compartilhamento pleno...
O amar não é apenas o momento da junção carnal, tão rápida.
O amar é, acima de tudo, o despojamento da própria alma.
É por isso que agora choro, por não conseguir me revelar.
Não consigo arrancar a máscara do meu medo para dizer,
na simplicidade da lágrima que cai agora, ingenuamente,
o que tentei, a vida inteira dizer, mas nunca consegui:
eu amo você!
Juazeiro do Norte-CE, 13 de março de 2007.
9h53min
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