A dança da chuva

Devo parar um pouco a dança da chuva,

não que essa terra seca esteja contente;

o tempo concorre, para madurar a uva,

e a insistência, nem sempre se aprova,

o amor vero é terra esperando semente;

assim, aborto ao baile do acasalamento,

abaixo penas rubras e silencio o trinado;

não alheio, contudo, antes, mui atento,

pois, esse te querer é tão grande, tanto,

quanto pode alguém ter outrem amado;

é insana a poética que, um ama por dois,

soa bela, mas, capitula ao sabor dos fatos;

quem oferta mais que possui, mente, pois,

no fundo é a carência que infla esse mais,

e após saciada, bem pode quebrar pratos;

quero sem violência, suave tal qual pluma,

sem dar o céu, mas, não negando o sangue;

amor criativo que à rotina não se acostuma,

que sabe a hora em que deve ser só poema,

e também, a do desejo soltar a sua gangue;

não entendas tal maciez como tapa de luva,

a sutileza da forma só camufla um fogaréu;

essa solidão que me enche trajada de viúva,

por isso, reitero, cessarei a dança da chuva,

sem deixar, entretanto, de olhar para o céu...