Diálogo de Primavera

Diálogo entre a Formiga e a Cigarra

.

- Cigarra que cantas, o que cantas tu?

- Canto a primavera que sempre desponta, canto o verão que explode nas pedras das encostas, canto a ribeira que morre de sede. Canto o inverno que há-de chegar para me apagar.

.

- Cigarra que cantas, onde tens o mérito?

- No vento, simplesmente, que me agita as guelras, na canícula, que me abre o ventre, nesta minha sina, que me bordou cigarra num trigal florido, na charneca em chamas.

.

- Cigarra que cantas, ensina-me a cantar!

- Se queres mesmo aprender, não tenhas medo de chorar. De rebentar, de rebentar, de rebentar. Para renascer, para renascer, para renascer! ! E vais bater as palmas com o baile mandado! Fazer a escovinha, com o corridinho. E vais agradecer todos os momentos. E pões-te a pensar, por um bocadinho – cigarra que cantas, onde tens o mérito? Não sabes a resposta, mas usas os talentos!

E se algum dia o sol nascer a ocidente, investiga-o com os binóculos – e se não achares inconveniente, estarás lá para o saudar!

.

.

© Myriam Jubilot de Carvalho

15 de Março de 2015

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 15/03/2015
Reeditado em 21/03/2015
Código do texto: T5170982
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.