ESTÁTUA do CIÚME

A estrada nunca é demais para o viajante,

deixei a vida escura e solitária das florestas

pisando a água de todas as chuvas,

e vestido ora de raio adiante de cavalo

vasculho o segredo dos lugares

cujo fogo é a estátua dos números

Procuro você no silêncio de um amor crescido na solidão dos acordes,

observando em você além da beleza a beleza

além das formas e das palavras,

procuro você amando-a além de mim e dos caminhos percorridos,

plantando as flores que serão colhidas p'ra você

e por você saudadas por beija-flores esteticonovoaçucarados.

Converso com você estando só estando só converso com você

acompanhado, entre milhões converso com você,

respiro você, beijo sua foto na carteira a sua foto na carteira beijo desejando

como desejam sábios os poderes dos magos,

beijo você, então, banhado pelas tintas do crepúsculo,

pelas tintas do crepúsculo beijo você banhado

pois não tenho escolha, escolha não tendo

encaro a estátua do ciúme

dissolvendo no sal do amor,

pois de tanto amor sentido penetro nos véus

do amor sonhado e sonhando o sentido do amor desejante

desejo sentir mais ainda o amor surpreso,

pois é natural e bonito amar-se além da esperança

ou da possibilidade de correspondência,

correspondendo-se amor e delírio astral

sob o olhar violeta do anjo perfilado

na entrada da vegetação sonora do paraíso

cujas mãos apertadas no peito guardam a moeda

que paga uma eternidade maluca

- exílio dos que engolem pelos poros - amor