Um Homem Só
Ali, de escuro, imóvel no banco mais sombrio, sou apenas um elemento do jardim. Poderia ser árvore, muro, as avencas da fonte, a pedra grande há séculos ali postada. Mas não. Nesta ocasional discrição aguardo a revoada de pássaros que trarão ao meu silêncio o barulho forte dos voos, procuras variadas, roteiros imprevisíveis. Quem diria? Tão simples, tão de um mundo que nem lê e ei-los, em estonteante alegria a dizer o que já toda a gente sabia: Primavera é a estação irreverente. Vem quando lhe apetece, se calha nem aparece e as flores fazem parte do vestido. Sem elas a pensariam nua e taranta embora um ou outro pecado destes se encontre a esmo ou ao monte até em gente santa. E eu aqui à espera de nada, certo de que terei tudo quando vieres ao apelo do sol e me digas: -tão de escuro, José? E, então, visto o casaco do avesso, vejo os pássaros que mereço e agora já mais claro te darei a mão para, contigo, sentir como o mundo é.