Na Sua Ausência
Bate-me o coração na boca. Sinto-o tão forte que, às vezes, penso que não é de mim o som mas da terra onde me deito. De tanta solidão aceito que por quem amo me beijes. Tudo o mais verei de cor, cego que estou de mágoa e sol, de desalinho. Tu puxas-me para o caminho e contigo vou sem ir inteiro. Deixo aqui os olhos para ver o meu amor primeiro e a boca para as palavras que direi. Deixo o espírito, essa tão rebelde ave, e também a emoção, o sangue, a vontade. O resto que arrastas dar-te-á sobras do vinho, pão antigo, sede gasta, beijos que a ternura não basta. Mas tudo é falso e de lata porque o ouro de lei e a prata, a luz dos dias que tinha não brilha na sua ausência. O corpo é este mas eu não estou.