Pescador

O desafio dessa página branca,

Força-me a atirar pequena isca,

Buscar a mordida duma boca arisca,

Que nada no cardume da inspiração...

As translúcidas águas desse vazio,

Denunciam minha sôfrega presença,

Aí pode que artimanha não vença,

Eu fique apenas com o anzol na mão...

Cansa muito essa solitude perversa,

Que enfatiza os maus momentos,

Privando de todos os instrumentos,

E fadando-me ao canto à capela...

Essa força que do meu alvo dispersa,

Entortando meu começo, meio e fim;

Pois, quando saio em busca de mim,

Sempre acabo encontrando ela...

Bem sei que tatuagem não se apaga,

Ri da chuva fina essa mui vívida pira,

Embora, muitos dirão ser só mentira,

Das grandes, mentira de pescador...

Mas, a dor desanca as forças do siso,

Há limite pra se manter a gravidade,

quem resiste em falar toda a verdade,

quando é torturado pelo amor???