Brincar de deus
Estive construindo montanhas,
Estive desenhando rios,
Erguendo Colinas,
Brisa que sopra suave,
Assobiando uivos ao norte,
Picos cobertos de frio...
Estive desenhando paisagens,
Pintando o horizonte alaranjado,
O pôr-do-sol levemente iluminado,
Estive abrindo passagens...
Estive drenando a luz...
Transformei o dia em noite.
Estava tudo muito escuro...
Chorei de medo.
Lágrimas escorreram,
Fracamente brilharam,
Tomei-as em meus dedos
E joguei-as para cima...
Já não podia mais vê-las,
Criei as estrelas...
Governava meu mundo,
Eu sabia o futuro,
Como seria,
Como queria,
Eu sabia...
Eu decorei nomes,
Eu criei a realidade,
Eu tive tudo nas mãos.
Eu era a verdade.
Eu lia pensamentos,
Eu dei temperatura aos dias quentes,
Eu podia ler mentes...
Então eu tropecei...
Eu senti dor,
Pela primeira vez eu me sentia vazio,
Pela primeira vez eu me senti criado,
Não mais criador...
Eu a conheci,
Mas eu mesmo a criei,
Eu me descontrolei,
Eu acho que me perdi...
Ler sua mente eu não podia...
Me doía não saber o que queria,
Me doeu não saber o que sente,
Me doía o amor latente,
Amor de um deus tão prepotente.
Amor que quebrou barreiras,
Que criou novas fronteiras,
Que avançou contra as corredeiras
Que o mesmo deus criou...
E no final das contas
Eu a tive... Para mim,
Mas deixei o trono de lado,
Vivi como um mendigo,
Não tinha o poder amigo,
Escravo do sentimento
Que me fazia tão completo...
Tive um destino selado,
Eu não mandava,
Eu obedecia...
E mesmo assim tudo era tão bom...
Eu apenas agradecia,
Envolto em seus braços,
Seu perfume, seus olhos a me fitar,
Seus lábios a me tocar,
Eu conheci uma outra realidade,
A plena felicidade...
Então despertei do sonho
Almejando os beijos teus...
Memórias de um sonho perfeito
Em que um dia eu fui deus.
27/01/2015