O rei e o amor
Assim, como se viesse numa tarde de chuva,
O amor, e batesse suplicando meu abrigo;
mostrasse o clássico encaixe da mão e a luva,
Todo o vinho futuro in natura, ainda na uva,
Trouxesse para buscar o rico sumo comigo...
É um sonho, e nesse império, eu que sou rei,
Meus desejos absolutos sempre atendidos;
De meu real umbigo eu faço o cordão da lei,
decreto que de amores antigos nada mais sei,
Aliás, até mandei implodir a adega dos idos...
Eis que tudo faço novo, nessa real conversão,
Selo com meu brasão o fim da velha injustiça;
Lanço para os crocodilos do fosso, a solidão,
E abro as portas do indulto ao meu coração,
Enquanto à ela, faço baixar a ponte levadiça...
Mas, não se vive muito no reino do quem dera,
O que deu prepondera, mesmo dando no meio;
Há tempo propício para as flores, a primavera,
Mas, florescem no verão botões de quimeras,
Aliás, nem tudo é quimera; afinal a chuva veio...